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terça-feira, 17 de abril de 2018

Mitologia Fenícia


A Fenícia correspondia à maior parte do litoral da Síria ho­dierna; tinha por limites, ao Sul, o monte Carmelo; ao Norte, o golfo de Isso, depois o território da cidade de Arados ou Arvad, o rio Eleutério (hoje Nahr-el-Kebir). A Este era limitada pela cadeia do Líbano, a Oeste pelo mar. A situação geográfica da Fenícia justifica plenamente o destino histórico de seus habi­tantes. Os fenícios nada podiam esperar da agricultura; somente ao Norte, perto da embocadura do Eleutério, e ao Sul, perto de Acre, estendem-se verdadeiras planícies. Excluída a região de Sídon e de Tiro, que constituiria depois o cabo Branco até Asclépio (Nahr-Awali), a "planície da Fenícia", a montanha segue de perto a margem e os espaços cultiváveis são insuficientes, como já o eram na proto-história, para alimentar o povo; o destino dos fenícios, pois, era o mar.
A cadeia do Líbano, cujo nome significa "branco", começa ao sul do Nahr-eI-Kebir e termina no vale cavado pelo Nahr-Qasi­miyeh; estende-se por 100 km de comprimento e ultrapassa, em alguns pontos, 3000 m de altitude; é uma barreira difícil de ser transposta.
A população da Fenícia era assaz densa; os textos mencio­nam 25 cidades importantes; estas, do ponto de vista político­-religioso, foram: Gebal, centro de culto Importantíssimo; Sídon, apelidada de "mãe de Canaã"; Tiro que, além da sua importância comercial. exerceu papel preponderante na constituição dos dogmas da religião fenícia; Ugarit (hoje Ras-hamra), em razão do seu afastamento, tinha mais independênçia que as cidades centrais da Fenícia; Bérito (hoje Beirute), sobre o cabo do mesmo nome, era centro importante, tanto comercial como reli­gioso.

 Monstro Leviatã
Panteão:

Os documentos da baixa época comumente transcrevem os nomes das divindades fenícias sob forma grega; os nomes fení­cios, em geral, são teóforos. Da multidão de divindades fenícias somente algumas emergiram até nós, os chamados Grandes deu­ses; estes eram adorados em diferentes lugares, cada cidade tinha preferência por determinado deus, o padroeiro, mas não excluía o culto dos demais; os fenícios os designavam pelo nome de Alonim, plural de El e que significa "deus" em língua semita, e pelo nome de Baalim, plural de Baal, que significa "senhor"; eram chamados, também, de melec ("rei") e adon ("senhor"). Freqüentemente consideram Baal como o nome de divindade determinada; na verdade, Baal designa os deuses em geral; o Baal de Tiro era "o senhor de Tiro", o Baal do Líbano era "o senhor do Líbano" etc.
A maior parte dos nomes divinos eram perífrases: Melcarte era "o rei da cidade".
Já que a maior parte das cidades fenícias reverenciavam um baal, é conveniente qualificar, sempre, o nome do lugar onde ele era adorado: Baal-rosh ("senhor do promontório"), Baal-sáfon ("senhor do norte"), Baal-shamin ("senhor dos céus"). Baal-Lé­banon (" senhor do Líbano") etc.
Melcarte -.Era o baal de Tiro e seu nome significa, simples­mente, "o deus da cidade", que nada explica da sua identidade; na origem era um deus tribal; os gregos o assimilaram a Héracles (Hércules). Seu carácter, na origem, era solar; mais tarde, sem perder seus atributos primitivos, ganhou outros, notadamente o de divindade marinha.
Dágon -O Baal Dágon, cognominado Síton, adquiriu, na baixa época, atributos marinhos; mas seu caráter primitivo per­maneceu na história dos Urânides; explicam seu nome ligando-o a uma palavra que significa "trigo" ou "oferenda de trigo"; mais tarde, por causa do carácter marinho que lhe atribuíram, ligaram seu nome à raiz semita que tem o sentido de "peixe"; conforme a Bíblia (I Samuel, V, 3-4) e às moedas greco-romanas de Abido, podemos identificá-lo com o deus-peixe Oanes da Caldeia.
Esmun -Em Sídon reinava um deus que não era chamado de Baal, Esmun, que foi identificado com Asclépios (Esculápio); era deus da saúde e, primitivamente, divindade ctônia. A etimo­logia de Esmun não é pacífica; conforme Lidzbarski, seria forma derivada de shem, "o nome" por excelência, antigo titulo divino que desapareceu muito cedo; seria, então, simples epíteto como Baal.
Astart -As duas grandes cidades do norte da Fenícia adora­vam em primeiro lugar não um dos múltiplos Baal, mas uma Baalat, forma feminina daquele nome, que se pode traduzir por "senhora" ou "dama". Em Beirute havia a Baalat-Beirut, isto é, "A Senhora de Beirute", por exemplo.
Astart parece a prosódia melhor; daí a forma grega Astarte. Astoret tem origem arbitrária.
Astart era a personificação da fecundidade, a deusa da mater­nidade e da fertilidade, a deusa-mãe; entre os assírio-babilônios assumiu, também, aspectos bélicos; mas o primitivo sempre pre­valeceu na Fenícia. Os gregos a identificaram com Mrodite. Sua natureza era de tal modo compreensiva que a consideraram ora Réia ora Cibele ora a Grande Deusa Síria.
Adónis - O culto desta divindade esteve sempre intimamente unido ao de Astart; era representado sob os traços de um belo mancebo; numa caçada, foi morto por furioso javali; Astart, sua amante, foi aos infernos buscá-lo. A narrativa da história de Adónis, devida ao poeta Paníasis õu Paníase (primeira metade do V século a.C.), é a mais antiga, de procedência grega, que possuímos.
O nascimento milagroso de Adónis lembra que ele era uma divindade agrária, um espírito da vegetação; seu culto era cele­brado em toda a Fenícia. Veja-se a história de Adônis no Dicio­nário da Mitologia greco-romana, de Tassilo Orpheu Spalding. A personalidade de Adônis é assaz obscura; nenhum texto fenício, grego ou latino esclarece o assunto; o nome é a forma helenizada da palavra semita adon, "senhor"; Adónis ficou res­trito ao mundo greco-romano; as línguas hebraica e siríaca cha­mavam esse deus Tamuz.
A verdadeira personalidade de Adónis nos é revelada por Damáscio (VI século da nossa era), que refere não "ser o deus nem egípcio nem grego, mas fenício, sendo seu nome Esmunos; era filho de Sadicos". Este texto nos faz compreender a verda­deira identidade de Adônis: ele esconde o nome de Esmun, como o titulo baal dissimula o verdadeiro nome do Grande deus.



Lenda Real:  História do rei Queret - O rei Queret perdeu toda sua famí­lia, mulher e filhos e não tem mais herdeiros. O deus El, que é seu pai, assim como Javé é o pai do rei de Israel ("Disse-me o Senhor: Tu és meu filho, eu hoje teerei…, Salmos, II, 7), lhe aparece em sonhos e lhe ordena que e1e parta com exército para. o país de Udum, onde reina Pabil, cuja filha ele desposará, Hurila, "Encantadora como Anat, amável como Astarte". Queret obe­dece à ordem divina. Chegado ao reino de Pabil, recusa todos os presentes, pedindo somente a mão da filha do rei em casa­mento. Na assembleia dos deuses, Baal intercede para que El abençoe Queret. A bênção é concedida: Queret terá sete, oito filhos, dos quais um será amamentado pelas deusas Anat e Astar­te. O reino de Queret prospera; ele oferece banquetes aos nobres do pais.
Há uma lacuna no texto. Este recomeça mostrando Queret enfermo, cercado dos filhos. "Pai, morrerás como os homens? Os deuses morrem?" pergunta um dos filhos. Entretanto, todo o reino de Queret já o chora. Depois de um conselho dos deuses, El pergunta que poderá curar Queret; este é realmente curado e amaldiçoa o filho que quis aproveitar da sua fraqueza para reinar.

Histórta do sábio Danel - Danel vem citado no livro de Eze­quiel: "Ainda que houvesse nesse país Noé, Danel e JÓ, esses três homens não salvariam senão a si próprios, devido à sua jus­tiça, oráculo do Senhor Javé. .." (XIV, 14). "Sem dúvida, eis-te mais sábio que Danel, nenhum mistério te é obscuro" (XXVIII, 3). Danel não só era justo e sábio, mas, igualmente, um rei privado de descendência. Ele não tem filhos para o auxiliarem no culto e combaterem com vigor os inimigos. Baal apiada-se de Danel e intercede por ele junto ao deus El; nasce, então, a Danel um filho que há nome Acat. Um dia, Danel, sentado à sua porta para "julgar a causa da viúva e do órfão", vê chegar o deus Cutar. Danel dá-lhe de comer e beber, bem como Abraão no vale de carvalhos de Mambré, quando viu três homens diante da sua tenda (Gên., XVIII, 1-8). Cutar dá-lhe um arco e flechas, que Danel confia ao filho Acat e manda-o à caça. Durante a caçada, Acat encontra a deusa Anat, a qual logo cobiça o arco de Acat; para tê-lo, oferece-lhe ouro, prata e, por fim, a imorta­lidade; mas o jovem não consente em se desfazer do arco e das flechas; discretamente zomba da caçadora: bem sabe ele que a morte é o destino dos homens, somente os deuses são imortais. Anat, despeitada, vai queixar-se a El e prepara a vingança. Aju­dada de um certo Iatpan, Anat, voando entre as águias, acima de Acat, quebra-lhe a cabeça. Danel, advertido da morte do filho, dá curso às lágrimas e maldiz a Terra por sete anos. Muitos pormenores do poema permanecem obscuros. Parece que Acat tinha uma irmã, e esta resolve castigar Iatpan; é plausível, tam­bém que Anàt pretendesse ressuscitar o .jovem Acat; os ritos cumpridos por Danel dão a impressão de que ele almeja o mesmo objectivo: ressuscitar o filho.


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